Lei do Silêncio

- O quê? Fala mais alto, eu não estou ouvindo!

Estamos todos ficando surdos. Não é por menos, vivemos no meio de um barulho infernal. É a poluição sonora da modernidade prejudicando nossa audição e nos deixando loucos e estressados.
E agora estes carros que parecem mais um trio elétrico, super equipados com aquele som que faz a casa tremer.
Como nunca antes precisamos de silêncio. O Imperador César (101 - 44, antes de Cristo) já sabia disto. Ordenou “que nenhuma espécie de veículo de rodas poderia permanecer dentro dos limites da cidade de Roma, do amanhecer à hora do crepúsculo; os que tivessem entrado durante a noite deveriam ficar parados e vazios à espera da referida hora”. A Rainha Elizabeth I, que reinou de 1588 a 1603, proibiu aos maridos ingleses baterem em suas esposas depois das 10 horas da noite, a fim de não perturbarem os vizinhos com gritos.
Hoje temos o nosso Código Civil que, além de defender os direitos da mulher, defende nossos tímpanos.
Em qualquer caso, melhor mesmo é viver bem com a vizinhança e educadamente pedir que respeitem nosso direito. Caso contrário, chamar os órgãos competentes e exigir o cumprimento da Lei 10.406, artigos 1.277 a 1.281.
Já dizia o Sábio que tudo neste mundo tem o seu tempo, cada coisa tem a sua ocasião; tempo de ficar calado e tempo de falar (Eclesiastes 3.1,7). O problema é que hoje a gente não tem mais o tempo do “ficar calado”. Se não é o barulho que vem da rua, tem o ruído constante dentro de casa vindo da televisão. E daí falta aquele saudável silêncio para a conversa - conversa com os outros e com Deus. Momento sem barulho para a leitura, a reflexão, a meditação, a oração. Coisa que o Senhor Jesus recomendou: vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai (Mateus 6.6).
Por isto, se até no céu, após aquela multidão gritar bem alto louvores a Deus, houve silêncio por mais ou menos meia hora (Apocalipse 8.1), então é imprescindível a bendita pausa contra os nocivos decibéis.
E se o poderoso César não queria barulho na noite de Roma, por algum motivo bem mais elevado o Criador exigiu um período de silêncio na noite deste mundo ensurdecedor. Isto porque a mensagem cristã da salvação eterna foi sussurrada em épocas passadas. Escreve o apóstolo que a pregação de Jesus Cristo é um “mistério guardado em silêncio nos tempos eternos” (Romanos16.25). Estranho, mas foi assim também, sem dizer nada, que o Filho de Deus foi levado para a cruz.
Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca (Isaías 53.7), testemunha o profeta. Algo contraditório nesta sociedade dos gritos e sons à todo volume, tudo para chamar a atenção. É desta forma, no entanto, que Deus chega e age, sem alvoroço, na quietude de um coração que aguarda em humilde silêncio.

No meio de toda esta barulheira, sorte nossa que a oração do salmista (83.1): “Ó Deus, não fiques em silêncio! Não te cales”, ainda não foi atendida. Porque quando os divinos decibéis das trombetas celestiais soarem, então será pronunciada a derradeira lei do silêncio: que todos se calem na presença de Deus, o Senhor, pois ele vem do seu lugar santo para morar com o seu povo (Zacarias 2.13).

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